O que é um Clube Escola
A criação de um Clube Escola tem como missão preencher as lacunas existentes a nível das atividades físicas, desportivas e culturais, no meio onde a escola se insere, assim sendo esta entidade pretende dinamizar atividades lúdico desportivas para toda a comunidade escolar e seus familiares, como forma de os aproximar desta entidade.
Além de criar um espaço de participação que representa uma oportunidade para praticar modalidades desportivas federadas nos clubes, o clube escola pretende integrar e disciplinar os alunos.
“Tem a ver com aquele tipo de alunos que têm dificuldades em cumprir regras, que são indisciplinados, faltam demasiado às aulas, é uma forma também de prendê-los mais à escola e integrá-los em atividades para que interiorizem as regras, a camaradagem e a amizade”, refere Rui Caetano, presidente do conselho executivo da escola, numa entrevista ao Diário de Notícias.
Os Clubes Escola têm um estatuto ambivalente uma vez que não fazem parte do currículo oficial da escola, mas não deixam de fazer parte do plano de atividades anuais praticadas dentro das escolas e a autorização do seu funcionamento e das suas atividades têm que ser aprovadas pelo Conselho Pedagógico.
É fundamental estabelecer uma articulação do conceito de “clube” com a “escola”, uma vez que todos os clubes escolares devem cumprir um objetivo para poderem existir e se desenvolver dentro do espaço escolar e serem considerados como tal um clube escolar.
Num sentido comum, a palavra “clube” é reconhecida na sociedade portuguesa pelas pessoas que a identificam e valorizam como algo conhecido e familiar, já que a palavra facilmente se associa a diversas modalidades e a diferentes atividades, quer seja em comunidades rurais, quer urbanas, entendidas como entidades culturais, que existem e estão espalhadas por Portugal, associações desportivas, dramáticas, musicais, etc.
Muitos desses clubes têm uma função específica que é a sua razão de ser: pretendem, ou efetivamente prosseguem, atividades ditas de âmbito cultural, recreativo ou educativo.
Como tal, todos os clubes escolares respeitam certas formas organizacionais e devem seguir os mesmos princípios, mesmo que possuam características diferentes, que dependem em grande parte da área ou tema central do clube escola.
Segundo Patrício, (1990) os princípios que devem seguir, são os seguintes:
- Autonomia: cada escola pode criar os clubes escola que entender. A criação e a dissolução dos clubes escolares ficam ao critério de cada escola;
- Liberdade: normalmente, têm um número limitado de alunos que se inscrevem, mas nem sempre isso acontece, pois estão abertos a todos os jovens, independentemente do ano escolar que frequentam, quer pertençam ou não a uma determinada escola e funciona sob a responsabilidade de um professor/coordenador;
- Primado da Cultura: têm como finalidade o desenvolvimento de atividades de natureza cultural, lúdica, artística ou desportiva, no quadro do plano de atividades aprovado pelo conselho pedagógico;
- Participação comunitária: pode ter a colaboração pedagógica de mais do que um professor e também de outros elementos da comunidade educativa desde que considerados competentes pelo conselho pedagógico.
Por norma, os clubes escola desenvolvem atividades de complemento curricular, mesmo continuando a ser considerados espaços de realização de atividades numa determinada área, como por exemplo clubes de teatro, de desporto, de ambiente, de saúde, de solidariedade, etc., e que se materializam em atividades que podem ser: visitas de estudo, exposições, concursos, debates, visualização de filmes, entre muitas (Duarte & Gonçalves, 1996:13).
Estas características podem levar a encontrar nos clubes escolares o convívio entre jovens, dos jovens com os professores, pais e comunidade, em geral, ampliando desta forma as suas ações educativas (Cuenca, 1987:41).
Os clubes escola tiveram as suas primeiras aparições depois da publicação da Lei de Bases do Sistema Educativo, em 1986, onde se explicitava que “as atividades extracurriculares dos diferentes níveis de ensino deveriam ser complementadas por ações orientadas para a formação integral e a realização pessoal dos educandos no sentido da utilização criativa e formativa dos seus tempos livres” (LBSE, 48o – 1), criando-se desta forma as condições para o aparecimento dos primeiros clubes escolares em Portugal.
Os clubes escolares surgem como a estrutura pedagógica de base para a realização das atividades fora da componente letiva do currículo, consideradas como atividades extracurriculares, numa proposta subscrita pela “Comissão de Reforma do Sistema Educativo” (CRSE), que apresenta os Clubes Escolares como parte integrante da Escola Cultural, funcionando “através de um orçamento a ser gerido pela escola e de um crédito anual de horas, (...) traduzível em atividades a desenvolver em clubes escolares, de frequência facultativa e livre, o que os faz situar a um nível abrangente da escola, sendo os clubes escolares geridos por professores em um horário que pode ser assumido por todos os envolvidos, no seu quadro de liberdade” (Mota, 1998: 43). Ao mesmo tempo, os clubes escolares são considerados como uma outra possibilidade de ocupação dos tempos livres dos alunos em um contexto de desenvolvimento e de resposta aos seus interesses e vocações pessoais, dando desta forma resposta aos seus interesses e vocações pessoais e aos seus naturais desejos de experimentação, de descoberta ou de criatividade.
Mais que tudo, a intenção do aparecimento de Clubes Escolares em Portugal, depois da publicação da LBSE em 1986 e do surgimento da perspetiva da “Escola Cultural”, como componente extracurricular nas escolas, procurava corporizar uma organização natural das atividades culturais e desportivas dos jovens e, também, dos professores com afinidades efetivas.
Na perspetiva da Comissão de Reforma do Sistema Educativo, os Clubes Escolares visavam diferentes finalidades (Foulquié 1952, citado por Mota, 1998: 56):
- Do ponto de vista psicológico, dava a possibilidade aos jovens de se empenharem em resolver os assuntos por que revelavam interesse;
- Do ponto de vista educativo, pretendiam levar os educandos a desenvolver sentimentos de pertença, bem como a fortalecer os sentimentos de relação e a criar laços com a instituição escolar e com a comunidade onde se encontravam inseridos;
- Do ponto de vista sociológico, devido ao desfasamento muitas vezes existente entre os horários de trabalho dos pais e a inexistência na maioria das famílias das figuras dos avós, que os substituíam, originando a necessidade de que os tempos livres dos educandos pudessem ser organizados pela escola, de forma que lhes fossem oferecidos um espaço e um leque de atividades extracurriculares, para além do tempo escolar;
- Do ponto de vista antropológico, as atividades extracurriculares desenvolvidas pelos primeiros clubes escolares que surgiram tinham como intuito a realização do aluno como um ser de cultura, com a vantagem de ter tais atividades e estarem a ser motivados pelo próprio meio em que a escola se encontrava inserida;
- Do ponto de vista do relacionamento interpessoal, os Clubes Escolares pretendiam criar a possibilidade de interação entre pares para promover o desenvolvimento da personalidade e o enriquecimento da comunicação.
Os clubes escolares, em Portugal, por norma, têm o seu regulamento interno, organizado de forma simples, clara e breve, que é aprovado pela direção da escola.
Quanto à forma de sustentação económica dos clubes escolares em Portugal, esta pode acontecer através da promoção e organização de eventos e ações de solidariedade, e em outros casos através de patrocínios de empresas, autarquias, comerciantes, de modo a conseguir, não só dinheiro, mas também material para as atividades.
No que se refere a administração e gestão dos clubes escolares, devemos referir que cada clube terá necessariamente um plano de atividades, onde são especificadas não só as atividades a desenvolver por determinado clube durante um ano letivo, mas também o número de jovens e a natureza das atividades desenvolvidas. Também existe um representante do clube escolar perante os órgãos da direção da escola, designadamente junto do conselho pedagógico, que normalmente corresponde ao coordenador do clube, que é um professor, um membro do clube (um aluno), nomeado pelos restantes alunos/membros, um diretor (ou presidente) do clube.