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A importância da disciplina de Educação Física

    Em Portugal, a Educação Física (EF) tem sido alvo de desvalorização devido ao facto de o ensino estar demasiado focado nas disciplinas que carecem de aprovação através de exames nacionais.

   Graças a esta situação estão a se formar crianças e jovens orientados para a aquisição e reprodução quase exclusiva do conhecimento, (Batista e Queirós, 2015 citado por McNamee, 2005), ou seja, deparamo-nos com seres limitados em relação à sua formação, com carência ao nível das atividades que apelam a criatividade e inovação.

   Tem sido notória a preocupação existente em equiparar a EF às restantes disciplinas, de tal forma que, de acordo com as diretrizes da UNESCO, que remontam a 1978, inscritas na Carta Internacional da EF e do Desporto, na qual refere que “todo ser humano tem o direito fundamental de acesso à EF e ao desporto, que são essenciais para o pleno desenvolvimento da sua personalidade. A liberdade de desenvolver aptidões físicas, intelectuais e morais, por meio da EF e do desporto, deve ser garantido dentro do sistema educacional, assim como em outros aspetos da vida social” (p.3).

    Desta forma, salienta-se que esta disciplina é peculiar devido ao facto de ser a única que visa preferencialmente a corporalidade (Graça, 2014), como tal a EF concebe uma noção de desenvolvimento integral e integrado, ensina a lidar com o próprio corpo, desenvolve noções de superação, de partilha, de trabalho em equipa e cooperação, promove a autoconfiança e autoestima (Batista e Queirós, 2015), ou seja, assume um papel preponderante na criação do “eu” ao longo da vida. Prescindir da EF é contribuir para a criação de indivíduos empobrecidos, no sentido das dimensões técnicas e motoras, éticas e estéticas, cívicas e morais, anímicas e volitivas[1].

   O jogo estimula a criatividade e inovação das crianças, por não se fixar exclusivamente nas regras impostas pelo mesmo, isto é, desde que as regras sejam cumpridas a criança tem a liberdade de arranjar meios e soluções para atingir os objetivos pretendidos pela modalidade em questão. Contrariamente ao que acontece nas outras disciplinas que se regem por um conjunto de normas a serem seguidas e aplicadas nos exames. Daí a tamanha importância que esta disciplina acarreta e deve estar presente no currículo escolar desde o ensino básico.

   Tal como constata no Parecer da FADEUP, (2012)[1] alguns estudos apontam que a obesidade e a inatividade física são os grandes problemas da saúde pública da atualidade, assim como as doenças cardiovasculares, metabólicas ou degenerativas[2]. Sabendo que a EF é a única disciplina curricular que utiliza o corpo como ferramenta de ensino e promove a prática regular de atividade física, a escola deve ser um lugar privilegiado para implementar e incutir a elaboração de hábitos de vida saudáveis, como a prática de atividade física, desde tenra idade, que trarão benefícios ao longo da vida, nomeadamente a prática regular de exercícios físico é imprescindível para um envelhecimento saudável quer a nível físico e mental[2].

  A Organização Mundial de Saúde (s.d.), define saúde como o completo bem-estar físico, mental e social e não somente quando existe ausência de doença[3].

 Em suma, prevalece a necessidade de as escolas cumprirem a sua posição na manutenção da EF, tendo em conta todos os aspetos mencionados anteriormente, e ainda ter a noção de que esta pode ser a única oportunidade que muitas crianças e jovens beneficiam para a realização de atividade física e desportiva, corretamente orientada e enquadrada, num meio pedagógico e didático conveniente e de forma gratuita[3].

 

Texto redigido por: Susana Berenguer

 

Bibliografia

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[1] Carta aberta ao Sr. Ministro da Educação. Diretor da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, Bento, J., 2012.

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[2] Carta aberta ao Sr. Ministro da Educação e Ciência. Professores Doutores da Faculdade de Medicina Universidade de Coimbra, Ribeiro, C.; Pinto, A.; Veríssimo, M. e Pinheiro, J., 2012.

​

[3] Carta aberta ao Sr. Ministro da Educação e Ciência. Pais dos alunos, Martins, P. e Tostões, A., s.d.

​

Batista, P.; Queirós, P. (2015). (Re)colocar a aprendizagem no centro da Educação Física. In R. Rolim, P. Batista & P. Queirós (Eds), Desafios renovados para a aprendizagem em Educação Física, Porto: Editora FADEUP, pp. 29-43.​​​

​

Graça, A (2014). Sobre as questões do quê ensinar e aprender em Educação Física, In Mesquita, Bento (Edit.). Professor de Educação Física: Fundar e dignificar a profissão. Editora FADEUP, Porto, pp. 93-113.

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